Se você é empresário, profissional autônomo, gestor de startup ou atua no mercado digital, já deve ter ouvido falar — ou mesmo assinado — um contrato de prestação de serviços. Mas será que você realmente entende o que deve constar nesse tipo de contrato? Quais são os direitos e deveres das partes? O que a lei exige e o que pode ser negociado livremente?
Neste artigo, vamos te mostrar tudo o que você precisa saber para elaborar, analisar ou revisar um contrato de prestação de serviços com segurança jurídica e clareza. E mais: vamos abordar os pontos mais sensíveis e recorrentes nesse tipo de relação, trazendo dicas práticas para evitar dores de cabeça no futuro.
1. O que é um contrato de prestação de serviços?
O contrato de prestação de serviços é um acordo formal em que uma das partes (contratada) se compromete a executar determinada atividade, de forma autônoma, para outra parte (contratante), mediante remuneração. Ele é regido pelo Código Civil brasileiro, especialmente pelos artigos 593 a 609.
Esse tipo de contrato é amplamente utilizado em relações empresariais, tanto com pessoas físicas (como designers, consultores, programadores, etc.) quanto com pessoas jurídicas (agências, empresas de TI, contadores, entre outros).
O contrato visa formalizar obrigações, esclarecer expectativas, proteger os envolvidos contra riscos jurídicos e, sobretudo, garantir que a relação seja transparente e profissional, sem margem para interpretações dúbias.
2. Diferença entre contrato de prestação de serviços e vínculo empregatício
Um dos maiores erros cometidos por empresas é confundir um contrato de prestação de serviços com um contrato de trabalho.
Se a relação entre as partes configura elementos como subordinação, habitualidade, pessoalidade e onerosidade, estamos diante de um vínculo empregatício — mesmo que haja emissão de nota fiscal.
Em outras palavras se o prestador recebe ordens diretas, trabalha todos os dias no mesmo horário, depende exclusivamente daquela empresa e está subordinado a um gestor interno, isso pode ser considerado fraude à legislação trabalhista, e a empresa pode ser condenada a pagar verbas rescisórias e multas.
Por isso, se a intenção é contratar um prestador autônomo, o contrato de prestação de serviços deve ser bem redigido, refletindo a realidade da relação e evitando cláusulas que possam sugerir subordinação.
3. O que não pode faltar em um contrato de prestação de serviços
Para que o contrato seja juridicamente válido e funcional, alguns elementos são indispensáveis. Veja abaixo os principais itens que devem constar no documento:
1. Qualificação das partes
Logo no início, o contrato deve trazer a identificação completa de contratante e contratado, incluindo nome ou razão social, CPF/CNPJ, endereço, e-mail e telefone de contato. Em casos envolvendo empresas, é essencial identificar o representante legal que assinará o contrato.
2. Objeto do contrato
Esse é um dos trechos mais importantes. O objeto define exatamente qual será o serviço prestado, de que forma, com que frequência e em quais condições. Quanto mais específico for o texto, melhor. Evite descrições genéricas como “serviços de consultoria”. Em vez disso, detalhe: “consultoria em gestão de tráfego pago para campanhas no Google Ads, incluindo análise de dados, definição de KPIs e relatórios mensais”.
3. Obrigações das partes
O contrato deve prever o que cada parte se compromete a fazer. O contratado assume o dever de executar o serviço conforme os termos combinados. Já o contratante deve fornecer os recursos ou informações necessárias para a execução e efetuar o pagamento nos prazos ajustados.
4. Prazo de execução e vigência
O prazo de execução do serviço pode ser fixo (ex: 30 dias) ou contínuo (ex: contrato mensal renovável). Já a vigência do contrato refere-se ao período em que ele estará em vigor. Segundo o artigo 598 do Código Civil, o contrato de prestação de serviços não pode ultrapassar quatro anos — mas pode ser renovado.
5. Valor e forma de pagamento
O valor acordado deve constar de forma clara, com a forma de pagamento definida (PIX, boleto, depósito, etc.), prazos (mensal, por entrega, por etapa) e eventuais reajustes. Pode-se incluir cláusula de multa por atraso no pagamento.
6. Cláusula de rescisão
Toda relação pode ser encerrada, e isso deve estar previsto no contrato. Recomenda-se estipular se haverá aviso prévio, multa por rescisão imotivada, reembolso de despesas ou retenção de valores proporcionais ao serviço já prestado.
7. Cláusula de confidencialidade
Se o contratado tiver acesso a dados estratégicos da empresa (como listas de clientes, dados financeiros, campanhas, etc.), é essencial incluir uma cláusula que proíba o uso ou divulgação dessas informações.
8. Cláusula de não concorrência (opcional)
Para evitar que o prestador use o conhecimento adquirido para atender concorrentes diretos, algumas empresas inserem cláusulas de não concorrência com vigência limitada e escopo territorial definido. Deve-se tomar cuidado para que a cláusula não seja excessiva, sob pena de nulidade.
9. Foro de eleição
Indique o foro competente para resolver disputas judiciais, geralmente o da cidade do contratante ou onde o serviço será prestado.
4. Quais riscos a empresa corre sem contrato formalizado?
A ausência de contrato pode resultar em sérios prejuízos, como:
- Prestadores que abandonam o serviço antes da entrega sem penalidade;
- Disputas sobre prazos, escopo ou qualidade;
- Dificuldade para comprovar obrigações acordadas verbalmente;
- Risco trabalhista se a relação for confundida com vínculo empregatício;
- Exposição de informações sigilosas sem responsabilidade definida.
Formalizar um contrato bem elaborado é uma forma de proteger o negócio, reduzir riscos jurídicos e transmitir profissionalismo aos parceiros.
5. Como um contrato pode ser assinado digitalmente?
Atualmente, é possível assinar contratos de forma eletrônica com validade jurídica, por meio de plataformas como DocuSign, Clicksign, ZapSign ou Gov.br. Para que a assinatura digital tenha validade legal, é necessário garantir a integridade do conteúdo e a autenticidade do signatário.
A Medida Provisória n.º 2.200-2/2001 e o Código Civil reconhecem a validade dos contratos eletrônicos no Brasil, desde que cumpridos os requisitos de segurança jurídica e concordância das partes.
6. Posso usar um modelo de contrato da internet?
- As necessidades específicas do serviço;
- O perfil do contratante e do prestador;
- O nível de complexidade e responsabilidade envolvida;
- A legislação aplicável ao setor (ex: proteção de dados, propriedade intelectual, etc.).
Além disso, é fundamental que o contrato esteja atualizado com as leis em vigor, como o Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014), e a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados — Lei 13.709/2018), entre outras.
7. Contrato de prestação de serviços na era digital: o que mudou?
- O prestador atua de outro país;
- A empresa contratante usa servidores em nuvem estrangeiros;
- Há tratamento de dados sensíveis de usuários;
- O serviço envolve entregas digitais (design, software, tráfego, SEO, etc.);
- Pagamentos são feitos em criptomoeda ou plataformas como Payoneer.
Esse cenário exige cláusulas adaptadas à realidade tecnológica, com previsão de:
- Propriedade intelectual sobre entregas digitais;
- Regras de compliance com a LGPD;
- Responsabilidade por falhas técnicas;
- Penalidades por vazamento de dados ou uso indevido de marca.
8. Conclusão: profissionalize suas relações com contratos claros
Seja você um prestador ou contratante, o contrato de prestação de serviços é um instrumento indispensável para garantir segurança jurídica, transparência e eficiência na relação comercial.
Mais do que um documento formal, o contrato é uma ferramenta estratégica: ele evita conflitos, organiza expectativas e protege seu patrimônio.
Antes de iniciar qualquer serviço, elabore, revise ou consulte um advogado especializado, que possa adaptar as cláusulas à sua realidade e te orientar na estruturação da relação.
Lembre-se: no direito, improvisar quase sempre sai caro.
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